quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O rouge virou blush. O pó-de-arroz virou pó-compacto. O brilho virou gloss. O
rímel virou máscara incolor. A Lycra virou stretch. Anabela virou plataforma. O
corpete virou porta-seios. Que virou sutiã. Que virou silicone. A peruca virou
aplique… interlace… megahair… alongamento. A escova virou chapinha. ‘Problemas
de moça’ viraram TPM. Confete virou MMs. A crise de nervos virou estresse. A
purpurina virou gliter. A tanga virou fio dental. E o fio dental virou
anti-séptico bucal. Ninguém mais vê: O à-la-carte porque virou self-service. A
tristeza agora é depressão. O espaguete virou miojo pronto. A paquera virou
pegação. A gafieira virou dança de salão. O que era praça virou shopping. A
areia virou ringue. O LP virou CD. A fita de vídeo é DVD. O CD já é MP3. É um
filho onde eram seis. O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail. O namoro
agora é virtual. A cantada virou torpedo. E do ‘não’ não se tem medo. O break
virou street. O samba, pagode. O carnaval de rua virou Sapucaí. O folclore
brasileiro, halloween. O piano agora é teclado, também. O forró de sanfona ficou
eletrônico. Fortificante não é mais Biotônico. Polícia e ladrão virou Counter
Strike. Fauna e flora a desaparecer. Lobato virou Paulo Coelho. Caetano virou um
pentelho. Elis ressuscitou em Maria Rita. Raul e Renato. Cássia e Cazuza. Lennon
e Elvis. A AIDS virou gripe. A bala antes encontrada agora é perdida. A
violência está maldita. A maconha é calmante. O professor é agora o facilitador.
As lições já não importam mais. A guerra superou a paz. E a sociedade ficou
incapaz. De tudo. Inclusive de notar essas diferenças".


Luís Fernando Verissímo

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