sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

As coisas andam
feias demais. Falta gentileza, sobra pressa, rancor e cara feia. Fico
impressionada com a quantidade de gente que mal dá bom dia. Pessoas que não
olham nos olhos, esbarram em você na rua e nem pedem desculpa, tratam garçons e
motoristas com ar superior, se sentem melhores que os outros. Na verdade, se
achar o máximo é brega e ridículo.


Clarissa Corrêa

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o
chope é gelado.É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de
domingo, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.Difícil é
amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo
errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. A
coerência. O rebolado.Difícil amar quando o outro fica cada vez mais
diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não
aceitamos que ele esteja.Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que
todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na
plateia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente
saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso
faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro.Difícil é amar quem
não está se amando.Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais
precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões, alavancas,
recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais
devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial de
transformação, no gesto aliado à vontade, e, especialmente, no amor que
recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da
gente.
Ana Jácomo

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

"Com toda a tristeza pelas redes que voltam vazias, sou corajosa o bastante para não me acostumar com essa ideia. Se gente não fosse feita pra ser feliz, Deus não teria caprichado tanto nos detalhes. Perseverança não é somente acreditar na própria rede. Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas.

Hoje, o dia pode não ter sido bom, mas amanhã será outro mar. E eu estarei lá na beira da praia de novo. "


Ana Jácomo
Eu só quero tirar o tom solene que emprego nas coisas tristes e descansar dos meus desamparos para recapitular cada átimo de segundo das milhares de vezes em que fui amplamente acariciada. Quero ser espectadora dos meus extremos e direcionar o meu vulcão interno pra devastação de um lugar em que, depois da destruição, possa haver um vasto reflorestamento. Não quero intimidar com a minha energia nem assustar com o que há de mais frágil em mim. Quero observar sossegada que o orvalho ainda não é chuva e que nem sempre o sol afasta o frio. Que pra luz ser boa ou a sombra inadequada, como numa foto, vai depender da imagem que eu quero reter...

Sei que morar numa cidade grande onde todo mundo vive tão apressado, pode fazer com que a gente se sinta mais carente que eterno.E assim como a solidão pode ser compartilhável ,amar alguém pode ser algo muito mais solitário...Mas só insiste em tropeçar nos próprios passos quem ainda não tem asas..

Marla de Queiroz

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Fiz as malas de quem eu estava hoje, fui embora de mim. Eu estava uma desesperança, autopiedade e um mau lugar para se estar. E como criei lugares secretos de repouso, hoje vou dormir aqui, neste pensamento bom, já que pensamentos também são lugares. Fiz as malas e tranquei a porta por fora, joguei as chaves fora, esvaziei apenas uma gaveta. Esvaziei-me do peso nas costas, das pernas cansadas, do choro contido. Esqueci o endereço daquela tristeza que estava arrastando minha alegria pra longe. Deixei a angústia desnorteada no meio do caminho, devolvi a solidão que não era minha, mas que estava comigo, arranjei um espaço para montar meu Altar Sagrado de boas lembranças e de confiança em dias melhores. Agora, neste novo ambiente, só cabem poesia, otimismo, fluidez, paz e um aconchego gostoso pros melhores amigos.

Dia desses, escutei que não posso mudar a direção dos ventos, mas posso adequar minha vela...

Marla de Queiroz

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

‎' Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida. '

Gandhi
A FISIONOMIA DA SAUDADE

Tão familiar é a fisionomia da saudade. E a lembrança da labareda alta do desejo, indo além: ao desalcance dos olhos.O toque constante, desavisado, parecendo uma distração. O olhar intenso, querendo ver o campo sutil das palavras.E toda nossa existência ampliada pelo sol do amor. Tão familiar a fisionomia da saudade, que ainda posso ver os pêlos saindo dos poros, tão junto meu rosto do teu. Das arranhaduras da carícia bem feita que uma barba mal feita faz. E um jeito de trazer minha cabeça pro lugar mais escurinho entre o travesseiro e o teu pescoço. Teu cheiro todo lá, naquele abrigo antes do sono. E no derradeiro das frases, o corpo insinuando mais que uma leitura, mais que uma dança, mais que comunhão. Das palavras que ainda inventaremos por achar tão divertido namoramar em dialeto inexistente. Tão familiar a fisionomia da saudade que meus dedos vão redigindo tua voz em meu ouvido, os "sussuruídos" de Guimarães nas tardes de estudo numa estação de cinema, as "ignorãnças" de um Manoel de Barros num feriado de tanto mar e nossos delírios poéticos nas esquinas de cada rua desta cidade em que somos os amantes mais excêntricos_ uma combinação perfeita de desejo, lirismo e essa nossa ternura escandalosa.

Marla de Quairoz

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011


Sou viciada em gente. Adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir… Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo. Este é o meu alimento: palavras para uma alma com fome. "
Clarice Lispector

Não espero nenhum olhar, não espero nenhum gesto, não espero nenhuma cantiga de ninar. Por isso estou vivo. Pela minha absoluta desesperança, meu coração bate ainda mais forte. Quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar. Quando se para de pedir, a gente está pronto para começar a receber. O futuro é um abismo escuro, mas pouco importa onde terminará a minha queda. De qualquer forma, um dia seremos poeira. Quem é você? Quem sou eu? Sei apenas que navegamos no mesmo barco furado, e nosso porto é desconhecido. Você tem seus jeitos de tentar. Eu tenho os meus. Não acredito nos seus, talvez também não acredite nos meus próprios. Não lhe peço que acredite em mim."

Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar... Decidi não esperar as oportunidades e sim, eu mesmo buscá-las. Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução. Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis. Decidi ver cada noite como um mistério a resolver. Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.

Naquele dia descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar. Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido. Deixei de me importar com quem ganha ou perde. Agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer. Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e sim deixar de subir. Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de "amigo". Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, "o amor é uma filosofia de vida".

Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma tênue luz no presente. Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais. Naquele dia, decidi trocar tantas coisas... Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para tornar-se realidade. E desde aquele dia já não durmo para descansar... simplesmente durmo para sonhar."
(Walt Disney)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

"Não confunda derrotas com fracasso nem vitórias com sucesso. Na vida de um campeão sempre haverá algumas derrotas, assim como na vida de um perdedor sempre haverá vitórias. A diferença é que, enquanto os campeões crescem nas derrotas, os perdedores se acomodam nas vitórias.
Não devemos ter medo dos confrontos... até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas".

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011


Olhando pro nada ela sorria. Poderia ter cometido um crime. Poderia amar em segredo. Poderia ter lembrado de coisas boas. Ela sorria. Como quem abafa um suspiro. Como quem guarda um segredo. Mas não era, nem segredo nem nada. Era felicidade e era muito.


– Não tem jeito meu bem, uma hora na vida a gente tem que ser feliz. Então era.


( Vanessa Leonardi )
Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar como entrei no inexpressivo...
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de SILÊNCIO.


Clarice Lispector

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Já ouvi várias vezes ah-como-você-lida-bem-com-as-coisas. Não, não lido. Sou péssima em lidar “com as coisas”. Sou ciumenta com coisas bobas, impulsiva pelo menos uma vez por dia, leio bula de remédio e depois acho que tenho aquele bando de sintomas, meu dedão do pé não é bonito, quero tudo do meu jeito e minha cabeça é muito, muito dura. Não sou uma musa, uma diva, uma entidade, uma mestra. Sou uma pessoa. E de vez em quando sou uma pessoa péssima. Péssima mesmo. De vez em quando morro de vergonha de mim. E se eu fosse você morreria de vergonha de mim também. Amo muito, tudo é muito, tudo é exagero, tudo é demais.
Clarissa Corrêa