segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A FISIONOMIA DA SAUDADE

Tão familiar é a fisionomia da saudade. E a lembrança da labareda alta do desejo, indo além: ao desalcance dos olhos.O toque constante, desavisado, parecendo uma distração. O olhar intenso, querendo ver o campo sutil das palavras.E toda nossa existência ampliada pelo sol do amor. Tão familiar a fisionomia da saudade, que ainda posso ver os pêlos saindo dos poros, tão junto meu rosto do teu. Das arranhaduras da carícia bem feita que uma barba mal feita faz. E um jeito de trazer minha cabeça pro lugar mais escurinho entre o travesseiro e o teu pescoço. Teu cheiro todo lá, naquele abrigo antes do sono. E no derradeiro das frases, o corpo insinuando mais que uma leitura, mais que uma dança, mais que comunhão. Das palavras que ainda inventaremos por achar tão divertido namoramar em dialeto inexistente. Tão familiar a fisionomia da saudade que meus dedos vão redigindo tua voz em meu ouvido, os "sussuruídos" de Guimarães nas tardes de estudo numa estação de cinema, as "ignorãnças" de um Manoel de Barros num feriado de tanto mar e nossos delírios poéticos nas esquinas de cada rua desta cidade em que somos os amantes mais excêntricos_ uma combinação perfeita de desejo, lirismo e essa nossa ternura escandalosa.

Marla de Quairoz

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